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SUS x Sistema de Saúde dos EUA: O cuidado com a vida, não tem preço

Em setembro de 2025, o Sistema Único de Saúde (SUS) completou 35 anos de funcionamento. Criado pela Constituição de 1988 e regulamentado em 1990, ele é considerado um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Seu princípio fundamental é simples: a saúde é um direito de todos e um dever do Estado.

No SUS, qualquer cidadão — brasileiro ou estrangeiro — pode ser atendido sem pagar no momento do uso. Isso é possível porque o sistema é financiado por impostos e contribuições sociais arrecadados pelo governo federal, estados e municípios. Ou seja, o custo é coletivo e socializado, não individual no momento da consulta, da internação ou do uso de medicamentos básicos.

Já nos Estados Unidos, a lógica é totalmente diferente. Lá, não existe um sistema universal público. A saúde é organizada de forma privada, baseada em seguros de saúde contratados pelas pessoas ou oferecidos por empregadores. Quem não tem seguro precisa pagar diretamente do próprio bolso — e a conta pode ser altíssima.

Existem programas públicos, mas eles são limitados: o Medicare cobre idosos e pessoas com deficiência, enquanto o Medicaid atende parte da população de baixa renda. Fora esses grupos, a responsabilidade é quase toda do cidadão. Isso faz com que milhões de americanos fiquem sem seguro ou com seguro insuficiente, arcando com despesas que podem levar até ao endividamento.

Quem gasta mais?

Os números revelam o contraste:

Nos EUA, os gastos, em dólar, em saúde chegaram a cerca de US$ 4,9 trilhões em 2023, o equivalente a 17,6% do PIB. Em média, cada pessoa “gasta” mais de US$ 14,500 por ano — quase sempre pago via plano privado ou do próprio bolso.

No Brasil, o SUS é subfinanciado em comparação, representando cerca de 3 a 4% do PIB. Ainda assim, garante cobertura universal: toda a população é atendida, mesmo quem não pode pagar nada diretamente.

Ou seja, os EUA gastam muito mais, mas esse gasto é privado, arcado pelos cidadãos. Já no Brasil, o gasto é coletivo, sustentado por impostos, o que garante que todos possam acessar cuidados de saúde.

Resultados e equidade

Apesar de gastar menos, o SUS é responsável por avanços importantes: campanhas de vacinação, ampliação da atenção básica e queda da mortalidade infantil. O sistema ainda enfrenta problemas — filas, falta de recursos e desigualdade regional — mas conseguiu universalizar o acesso.

Nos EUA, embora haja tecnologia avançada e atendimento rápido para quem pode pagar, o sistema é marcado pela desigualdade. Pesquisas recentes mostram que um em cada quatro americanos adia ou desiste de tratamento por não conseguir arcar com os custos.

 Considerações

O contraste é claro:

Brasil / SUS → universal, gratuito no ponto de uso, custeado por impostos (gasto coletivo).

EUA → fragmentado, caro, dependente de seguros e pagamentos diretos (gasto privado, individual).

Enquanto o SUS garante o acesso como direito de cidadania, o sistema americano transforma saúde em mercadoria. Assim, mesmo com menos recursos financeiros, o Brasil consegue oferecer uma rede pública que atinge toda a população.

Fontes

  1. Centers for Medicare & Medicaid Services (CMS). National Health Expenditure Data (2023). cms.gov
  2. Commonwealth Fund (2024). Biennial Health Insurance Survey. commonwealthfund.org
  3. Health System Tracker (KFF, 2024). What drives health spending in the U.S.? healthsystemtracker.org
  4. OECD (2025). Institutionalising Health Accounts in Brazil. oecd.org
  5. The Lancet Regional Health – Americas (2023). Brazil’s health system challenges. thelancet.com
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