
O Brasil consolidou-se como um dos principais atores do comércio internacional, com destaque para o setor do agronegócio, que respondeu por aproximadamente 48% das exportações totais do país em 2023, equivalentes a cerca de R$ 1,2 trilhão. Nesse contexto, a China se apresenta como o principal parceiro comercial brasileiro, especialmente após o acirramento das tensões comerciais entre Washington e Pequim durante o governo de Donald Trump (2017–2021). Com a imposição de tarifas sobre produtos chineses, o país asiático buscou diversificar seus fornecedores, o que favoreceu significativamente as exportações brasileiras.
Principais Parceiros Comerciais do Brasil em 2023 (valores médios anuais em R$)
- China – R$ 447 bilhões
Principais produtos exportados: soja (R$ 200 bilhões), minério de ferro (R$ 180 bilhões), carne bovina (R$ 45 bilhões), petróleo (R$ 60 bilhões) e celulose (R$ 25 bilhões). Vantagem estratégica: mercado consumidor de grande escala, com transações em dólar, o que contribui para a redução do risco cambial.2. Estados Unidos – R$ 186 bilhões
Relação comercial mais diversificada, com destaque para aviões (R$ 30 bilhões), máquinas (R$ 25 bilhões) e produtos químicos (R$ 20 bilhões). No entanto, persistem barreiras comerciais, como as impostas ao etanol e ao aço brasileiros.3. Argentina – R$ 78 bilhões
Principal parceiro no âmbito do Mercosul, com fluxos significativos de veículos (R$ 20 bilhões) e trigo (R$ 15 bilhões), embora impactado por sucessivas crises econômicas.4. Países Baixos – R$ 56 bilhões
Atuando como hub europeu para commodities agrícolas, os Países Baixos concentram importações de café (R$ 12 bilhões) e suco de laranja (R$ 8 bilhões).5. Alemanha – R$ 54 bilhões
Importadora de produtos agrícolas (R$ 18 bilhões) e exportadora de maquinário industrial (R$ 22 bilhões), reforçando a complementaridade comercial com o Brasil.
A Guerra Comercial EUA–China e o Agronegócio Brasileiro
Em 2018, o governo norte-americano impôs tarifas de até 25% sobre cerca de US$ 250 bilhões em produtos chineses (aproximadamente R$ 1,25 trilhão), incluindo itens como soja e carne. Como retaliação, a China elevou de 3% para 27% a tarifa sobre a soja americana, o que aumentou significativamente a competitividade do produto brasileiro.
Benefícios para o Brasil no Período (valores aproximados em R$)
– Soja: A participação do Brasil nas exportações chinesas do grão cresceu expressivamente. As vendas brasileiras passaram de R$ 103 bilhões em 2017 para R$ 143 bilhões em 2021.
– Carne bovina: A China autorizou mais de 100 frigoríficos brasileiros para exportação. As vendas aumentaram de R$ 9 bilhões (2017) para R$ 45 bilhões (2023).
– Diversificação de exportações: Além da soja e da carne, cresceram significativamente as exportações brasileiras de milho (R$ 30 bilhões), algodão (R$ 12 bilhões) e celulose (R$ 25 bilhões) para o mercado chinês.
Impactos no Mercado de Trabalho dos Assalariados Rurais
A intensificação das exportações de commodities agrícolas teve efeitos diretos e indiretos sobre o mercado de trabalho rural, especialmente no que se refere aos trabalhadores assalariados.
Principais Impactos
– Geração de empregos formais: O crescimento da demanda por soja, milho e carne impulsionou a contratação de trabalhadores em polos de produção como o MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e o Centro-Oeste. Entre 2018 e 2023, estima-se a criação de aproximadamente 180 mil empregos formais no setor.
– Sazonalidade e informalidade: A demanda por mão de obra é concentrada nos períodos de safra, com alta rotatividade e prevalência de contratos temporários ou terceirizados, especialmente nas lavouras de cana-de-açúcar e laranja, menos dependentes do mercado chinês.
– Automatização e qualificação: A crescente mecanização e o uso de tecnologias exigidas pelo mercado externo, como sistemas de rastreabilidade, reduziram a necessidade de mão de obra braçal, ao mesmo tempo que ampliaram a demanda por operadores qualificados de máquinas e técnicos em agropecuária.
– Desigualdade estrutural: Os maiores benefícios concentram-se em grandes produtores e empresas exportadoras, enquanto as pequenas propriedades geram menor quantidade de empregos formais e têm menor acesso aos ganhos do comércio exterior.
Considerações Finais
A intensificação da relação comercial com a China resultou em ganhos econômicos importantes para o Brasil, especialmente para o setor agroexportador. Contudo, os benefícios não foram distribuídos de maneira equitativa no mercado de trabalho rural. A valorização dos salários e a criação de postos qualificados coexistem com altos índices de informalidade e precarização. Nesse sentido, políticas públicas específicas voltadas à formalização do emprego, capacitação da mão de obra e apoio aos pequenos produtores são fundamentais para garantir inclusão e justiça social no campo.
Referências
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). ComexStat. Dados de exportação. Disponível em: https://www.gov.br/mdic/pt-br. Acesso em: jun. 2025.
USDA. United States Department of Agriculture. Relatórios de comércio agrícola. Disponível em: https://www.usda.gov. Acesso em: jun. 2025.
REUTERS. China retaliates against U.S. tariffs with duties on $60 billion of goods. Disponível em: https://www.reuters.com. Acesso em: jun. 2025.
BLOOMBERG. Trade War Timeline. Disponível em: https://www.bloomberg.com. Acesso em: jun. 2025.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Estatísticas do setor externo. Disponível em: https://www.bcb.gov.br. Acesso em: jun. 2025.
IPEA. Mercado de trabalho rural. Disponível em: https://www.ipea.gov.br. Acesso em: jun. 2025.
CEPEA/USP. Indicadores econômicos do agronegócio. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br. Acesso em: jun. 2025.